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A linha tênue da amizade

by - outubro 22, 2009

Sei lá quantos anos eu tinha. Uns 12 talvez. Eu era louca para cuidar de um bebê, tê-lo pra mim. Não sei explicar se já naquela idade era meu instinto materno falando. Mas o fato é que eu não estava só em sonhar em encontrar um bebê abandonado na porta da minha casa - e essa era a única forma que eu cogitava para conseguir meu bebê de verdade. Tenho uma amiga de infância que dividia comigo essa brincadeira de sonhar. Lembro-me que seja indo pra casa dela ou pra minha, em todo o caminho conversávamos como que desejando que quando chegássemos, na porta estaria um bebê todo enroladinho dentro de uma cesta (e isso se devia a alguma cena de filme, com toda certeza).

Na minha cabecinha de criança, nunca imaginei os sofrimentos envolvidos no abandono, nunca imaginei questões legais que esse meu sonho envolvia. Era apenas uma criança sonhando em ser mais adulta. E cuidar de um bebê era algo como ter um certificado de menina responsável.

As amizades que fazemos ao longo da vida nos marcam demais. Essa específica da minha historinha é uma das que mais me acrescentou. Sempre fomos muito diferentes. Sei que já brigamos, mas não me lembro de qualquer das brigas. Lembro de coisas divertidas que fazíamos juntas. Era um tal de tirar foto, desfilar, passar batom escuro, vestir as roupas das mães... Será que toda criança tem esse acesso de ser adulto?

Hoje cá estamos mais pra 30 que 20 e acho que a idade é um atestado de maturidade e, por vezes, de autruísmo. O 'ser criança' nos faz preocupar-nos mais com o outro. Querer saber se a colega da brincadeira está curtindo ou não. Vamos brincar do que hoje? Vamos brincar de bola na piscina? Brincar de Barbie? De casinha? De desfile? Vamos ver um filme? Que tal esse? Todos satisfeitos, todos felizes, vamos curtindo a brincadeira. Nunca tive amigo que ao invés de sugerir e pedir, mandasse. Mas já sofri muito com isso. Sempre fui muito tímida e engolia sapos demais. Era de primo ou de filhos dos amigos dos meus pais. Meus pais tinham a mania de me jogar aos 'lobos' e eu acabava chorando sozinha pela falta de coragem de me defender, dizer que não estava me sentindo bem com essa ou aquela brincadeira. Afinal, somos diferentes um do outro. 'Vá brincar com as outras crianças'. Eu odiava aquilo. Era recebida pelos lobos pelas outras crianças já com piadinhas de mal gosto. Os donos da casa eram os donos da bola - já ouviram isso? Crianças que mandam nas outras e acham que é normal fazer isso - afinal são donas da bola, né? Quem dera se esses algum dia aprendessem a tratar como se deve os amigos - será que os amigos realmente são amigos de verdade, capazes de contribuir pro crescimento do outro ou será que estão alí por interesse? Porque a bola, afinal, é dele. Se dizem que não estão satisfeitos, que não gostam como são tratados, talvez perderão o que estão tão interessados. No caso, a bola. Mas amigo que é amigo, na minha opinião, fala pro outro o que sente. E se o outro amigo não se importa pelo que você está sentindo e tenta convencê-lo que não tem o direito de se sentir assim já que, afinal, os outros amigos interessados na bola ou desinteressados na verdade, não dizem se sentir da mesma forma - aí chega num ponto que não sei dizer o que o outro quer daquela amizade.


Eu faria tudo por um amigo, desde que esse amigo soubesse pedir e desde que o pedido não fosse nada que algum mal a alguém causaria. Normalmente são pedidos fáceis de atender, desde que o amigo saiba pedir. Tudo se consegue nessa vida, só temos que saber pedir. Exigir, mandar, não se preocupar com o que o outro pensa ou sente - e principalmente desprezar isso quando alguém diz que não está satisfeito - não é forma adulta de agir. Isso é voltar aos tempos de criança que pode pisar na outra criança, já que afinal, é dona da bola e manda no jogo.


Amigo que é amigo retrata mal entendidos. E basta, às vezes, uma explicação - caramba, eu não quis dizer isso, tivemos um total mal entendido. Com isso qualquer amigo se mostraria realmente preocupado com a felicidade do outro e conseguiria corrigir um erro. Mas tem amigo que não assume erros, afinal, pra ele , tudo que faz é perfeito.

Tem gente que não quer construir, quer é ser dono da história. Mas tem história que não pode acontecer sem ajuda, sem companhia, sem amizades. Tem histórias que terminam sem um fim de verdade. Em uma dessas minhas histórias há um enorme ponto de interrogação. Será que eu fecho ou não esse livro? Mas ainda dá tempo... sempre dá tempo. E apesar de ter quase certeza que não ouvirei palavra, vou esperar até o último dia. Porque não vou onde não me querem. E apesar de sentir um carinho enorme por meus amigos, preciso sentir o mesmo da parte deles pra saber que está tudo bem.





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4 comentários

  1. Dra Alessandra,só te conhecia de nome,ouvia muito falar d ti,porem me declaro uma apaixonada por sua pesoa como profissional.Saúde menina, paz e muita harmonia é o que poso te deseja
    Magda

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  2. Eu gosto de preservar amizades, mas aprendi a descartar aquelas amigas que sugavam minha energia e davam quase nada em troca. O importante para mim é ter LUCRO, mas não um lucro finaceiro, e sim um lucro emocional.

    Gosto de aprender com amigas, gosto de ter bons momentos, de trocar ideias, filmes livros. Me livrei de algumas amigas nada me acrescentavam. Fiquei triste no primeiro mês, sofri, foi passando e hoje adoro ter me livrado delas.


    Tenhos um post sobre isso, sobre como se livrar das tranqueiras emocionais. Aqui:

    http://fernandareali.blogspot.com/2009/09/abra-espaco-na-sua-vida.html

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  3. As minhas amigas de infancia foram as minhas irmãs. Não me lembro de passar por essas situações. Acho q pq sempre fomos em três.
    Mas lá pelos meus 13 anos fiz algumas amizades gostosas que preservo até hoje!!
    Sou daquela amiga que gosto de sempre estar ligando, mandando email, independente da distancia!!
    bjinhos

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  4. Bom dia!

    Sorriso nos lábios, sempre podemos ter,mas para nossa alma sorrir, precisamos estar felizes...
    Aquela felicidade que cria raízes, que nos faz desejar o que está por vir...que nos dá alegria de viver...
    Temos alegria interior...
    Vontade de correr e gritar.
    A felicidade não podemos esconder.
    É um real reviver...
    Só pensamos em beijar...amar
    É algo que desejamos, seja como for...
    Assim é a felicidade ...
    Que nos deixa com os lábios e a alma a sorrir.

    Fim de semana de luz.

    beijooo.

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